Muitas pessoas podem achar que por ser pessimista me foco no pior e espero que algo mau aconteça. Não é por aí. Apenas prevejo possibilidades más e me preparo para elas. Fazer isso mantém os meus pés bem assentes no chão e dá-me a confiança necessária para seguir em frente.
Antigamente, acreditava que tudo que estava a viver era uma fase má e que no futuro as coisas iriam melhorar. Aquele otimismo adolescente. Estudei, trabalhei e foquei-me nos meus sonhos. Aceitei conselhos. Fiz o que me disseram para fazer. Mantive-me otimista e esperei pelo melhor, tanto da vida como das pessoas. E então o futuro chegou... Nele perdi pessoas que eu amava, vi os meus sonhos reduzidos a pó, presenciei a queda dos pilares da minha vida e um dia, como noutro qualquer, alguém abriu o meu peito com um pé de cabra e arrancou o meu coração com as mãos. Não era isso que esperava da vida ou de certas pessoas. Mas foi o que aconteceu. Fui parar ao fundo de um poço, sem ninguém que me atirasse uma corda.
Muita gente, ao ver esta situação, me diria para acreditar "em mim mesmo" e sair "partir pra outra". Acontece que acreditar em nós não é um simples pensamento otimista. Implica confiança. Muitos confundem confiança com otimismo, mas a confiança nasce após um trabalho duro e muita aprendizagem. É algo adquirido e não um pensamento, trata-se mais de uma constatação. Temos de fazer por merecer, temos de ser dignos da nossa própria confiança, só assim podemos verdadeiramente acreditar em nós.
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O que faz um pessimista ser diferente de um otimista? Talvez seja o fato de não saber apenas tudo o que pode correr mal, mas saber também exatamente o que fazer quando tudo der errado.
Assim como na vida, ser otimista não nos ajuda muito nas apostas.
O meu trabalho como apostador é prever todas as possibilidades possíveis para um evento e saber qual a percentagem certa para cada uma. Mas isto é uma descrição e não a realidade, pois na realidade o grande fator talvez seja a previsão dos riscos.
Isso mesmo. Quais são os riscos para aquela possibilidade? Quais são as variáveis? O que pode correr mal? Recordem-se da lei de Murphy.
Conhecer todos os riscos relacionados com uma aposta é fundamental. Só assim podemos calcular se é de valor fazer a aposta ou "dropar", como diria o meu grande amigo Victor Vaz.
Um grande apostador não se destaca pelas apostas que acerta ou pelas apostas que perde, mas sim pelas apostas que não faz, ou melhor, deixa de fazer. Há um significado oculto nesta frase, mas que é essencial: deves saber quando não apostar.
Quando faço uma aposta, não estou focado em saber se será uma aposta ganhadora ou não, pois na minha concepção, todas as apostas são perdidas, pelo menos até entrarem. Caso não seja vencedora, continuará no status inicial e não mudará nada na minha vida.
Logo, não existem apostas certeiras, isto é, nenhuma aposta está ganha antes do final do evento. Por maior que seja a probabilidade de algo acontecer, não há garantias de que efetivamente suceda. Quem tem certezas em tudo na vida é apenas um idiota nas apostas, pois as nossas conclusões estão em constante evolução.
A estratégia do pessimista nas apostas consiste em:
- Saber calcular os riscos de cada possibilidade da melhor forma possível, podendo assim ver se o valor daquela possibilidade (odd) é digno de uma aposta, de acordo com os seus riscos;
- Além disso, é preciso calcular o impacto daquela escolha no longo prazo, para saber exatamente quando não fazer a tal aposta.
- Também é preciso ter uma estratégia definida para quando tudo correr mal, pois quando nada der certo, tens de saber exatamente o que fazer para superar esse período negativo.
És como um palhaço numa corda bamba, equilibrando lucros e perdas com uma vara, rezando para chegar ao outro lado da corda sem cair? Ou é mais um "Philippe Petit"?
Confiança, amigo!
Se me perguntarem se terei lucro numa temporada, responderei com toda a convicção que sim! Isto não é otimismo e sim confiança. Adquiri isto com muito estudo e dedicação, não com pensamentos positivos e oração. Sou um homem desprovido de fé, mas cheio de confiança no meu trabalho.
O exemplo mais fácil de entender que posso dar é o seguinte:
- Imaginem um confronto entre o atual líder de uma competição, em casa, e o último classificado, na reta final de um campeonato. A equipe que é líder, naturalmente é a favorita, ainda para mais por jogar em casa. Ambas as equipas chegam ao jogo na máxima força. O ponto forte da equipa líder é as jugadas aéreas ofensivas, enquanto o fraco é as jugadas aéreas defensivas. Já o último classificado tem como ponto forte as jogadas aéreas ofensivas, costuma controlar a posse de bola e possuí jogadores de elevada estatura, enquanto os seus pontos fracos são a dificuldade de atacar e a lentidão da sua defesa. O que poderia correr mal para a equipa da casa num jogo destes?
- Muitas coisas. Ainda para mais quando uma equipa é muito favorita e as linhas abrem massacradas. Pode ser um erro apostar na diferença de golos de um handicap, quando a equipe favorita tem como ponto fraco justamente o ponto forte da equipe adversária, que vem desesperada por uma vitória. Nunca é bom subestimar o desespero.
- A odd para a vitória da equipa líder estaria seguramente demasiado baixa, seria uma odd sem valor, e um handicap negativo traria riscos demasiado altos para o valor da odd.
Lembrem-se sempre dos fairs. A odd deve ser superior ao justo para ser de valor apostar.
Muita gente pode pensar que por ser pessimista me foco no pior e espero que algo mau aconteça. Não é por aí. Apenas prevejo possibilidades más e estou preparado para elas. Fazer isto mantém os meus pés assentes no chão e dá-me a confiança de que necessito para seguir em frente.
Como conclusão, acredito que tanto na vida como nos investimentos é preciso ter os dois pés bem assentes no chão, pois ninguém pode voar para sempre. Mais cedo ou mais tarde é preciso aterrar. Do que eu conheço das leis da física, isto significa cair. Mas se insistirem na ideia de voar, pelo menos preparem-se para a queda.
Espero que tenham gostado, um grande braço a todos!